Foto arquivo pessoal
Dormi
jornalista e acordei professora. Não houve mágicas durante o sono – há alguns
dias prejudicados pela ansiedade – tampouco acordei incorporada pelo espírito
do Paulo Freire e nem mesmo com a veia de repórter cortada e exortada de mim.
Hoje, pela primeira vez, despertei para uma nova realidade, isto é, para uma
nova forma de lidar com a educação. Ao invés de cobrir o tema e escrever a
respeito, iniciei efetivamente a jornada para dentro do processo de ensino e
aprendizagem. Sou professora de Redação no 1º ano do Ensino Médio do Colégio
John Kennedy de Porto Ferreira, interior de São Paulo.
Sempre
trabalhei em jornal impresso e, não para menos, vislumbrei um novo futuro na
área escolar de produção de textos. Assim, durante dez anos, não dormia sem
antes repassar mentalmente, e à exaustão, toda a apuração do dia e a matéria
entregue; não dormia sem antes checar os compromissos do dia seguinte, a
possibilidade de levar um furo, em como dar um furo e conseguir personagens
para uma pauta quase fechada.
Meu
vocabulário era composto pelos nomes de ministro e secretário de Educação e por
suas diretrizes em políticas públicas para o ensino, pelas novas tecnologias
utilizadas pelas escolas particulares da capital para aperfeiçoar as aulas
ministradas, pelas dificuldades e transtornos enfrentados pelos vestibulandos
durante as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pelos novos cursos
das universidades públicas, validade e reconhecimento de diplomas de graduação
e pós-graduação e até pela formação do profissional da Educação Infantil e
brincadeiras educativas para estimular o gosto pelo aprendizado nos pequenos.
Agora, trago comigo nomes como Thaís, Mateus, Manoela, Lorenzo, Miguel, Débora,
Amanda, Maria Clara, Gabriel, Joana e João Gabriel. Tenho mais seis alunos. Um
faltou, outro não colocou o nome no texto que pedi para ser entregue hoje e os
demais deverão entregar a redação na próxima aula, depois de amanhã. Eles têm
cerca de 15 anos e estão no 1º ano do Ensino Médio. Esta também é a primeira
turma dessa etapa no Colégio John Kennedy de Porto Ferreira.
Minha
atenção está voltada para eles, em como preparar uma aula instigante e
desafiadora, que tenha significado e se transforme em aprendizado a cada novo
encontro. Não é mais o meu texto que importa e sim o deles. Educação ganhou a
cor de 17 rostos com os quais me comprometi antes de conhecê-los. Durante a
aula, olhava para eles como quem tem diante si a possibilidade de um futuro
promissor porque a juventude inspira a esperança.
Portanto,
também hoje, dei-me conta de que entre os novos desafios não está mais o
cumprimento de um prazo ou do dead line. Dessa nova perspectiva, a Educação é
um processo de construção contínuo e jamais acabado: para eles e para mim. O
professor, penso eu, é para sempre um discípulo, pois a alegria e o prazer de
aprender e de conhecer não se esgotam (ou, pelo menos, não deveriam esgotar-se)
entre aqueles que se dedicam a ensinar.
Faz pouco mais de um ano que sonho com este dia. Comprei muitos livros para me
preparar, faço parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem)
do Laboratório de Psicologia Genética da Unicamp e fiz dois semestres do curso
de especialização latu sensu em “Neuropedagogia e Psicanálise no Contexto
Educacional” na Unicep, em São Carlos. O objetivo sempre foi o de estar
preparada para o “grande dia” e qualificada para dar atendimento de excelência
aos estudantes.
Mas,
como escreveu o Paulo Freire, nenhum professor nasce com dia e hora marcados.
“A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre
a prática”. E nisso há muita semelhança com o Jornalismo. Fazemo-nos repórteres
no cotidiano das redações e no convívio com nossos colegas mais experimentados.
Nesta
nova empreitada, não é diferente, mas o acaso torna a experiência ainda mais
interessante. Minha parceira de trabalho, Alessandra Malinverni, foi minha professora
de Redação no segundo e terceiro anos do Ensino Médio, respectivamente, em 1995
e 1996. E sempre gostei do trabalho dela. Nunca tive grandes dificuldades com a
escrita, mas as aulas da Alê, sempre regadas à boa música – ela toca e canta
muito bem – foram imprescindíveis para adequar a escrita aos padrões dos
vestibulares e educar o pensamento com foco e objetivo nos temas propostos. E é
emocionante dar esse primeiro passo com o apoio de uma educadora que eu
pessoalmente admiro desde quando era sua aluna.
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