quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Isis Brum abandonou a carreira de jornalista e se tornou professora

Foto arquivo pessoal

            Dormi jornalista e acordei professora. Não houve mágicas durante o sono – há alguns dias prejudicados pela ansiedade – tampouco acordei incorporada pelo espírito do Paulo Freire e nem mesmo com a veia de repórter cortada e exortada de mim. Hoje, pela primeira vez, despertei para uma nova realidade, isto é, para uma nova forma de lidar com a educação. Ao invés de cobrir o tema e escrever a respeito, iniciei efetivamente a jornada para dentro do processo de ensino e aprendizagem. Sou professora de Redação no 1º ano do Ensino Médio do Colégio John Kennedy de Porto Ferreira, interior de São Paulo.

           Sempre trabalhei em jornal impresso e, não para menos, vislumbrei um novo futuro na área escolar de produção de textos. Assim, durante dez anos, não dormia sem antes repassar mentalmente, e à exaustão, toda a apuração do dia e a matéria entregue; não dormia sem antes checar os compromissos do dia seguinte, a possibilidade de levar um furo, em como dar um furo e conseguir personagens para uma pauta quase fechada.

           Meu vocabulário era composto pelos nomes de ministro e secretário de Educação e por suas diretrizes em políticas públicas para o ensino, pelas novas tecnologias utilizadas pelas escolas particulares da capital para aperfeiçoar as aulas ministradas, pelas dificuldades e transtornos enfrentados pelos vestibulandos durante as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pelos novos cursos das universidades públicas, validade e reconhecimento de diplomas de graduação e pós-graduação e até pela formação do profissional da Educação Infantil e brincadeiras educativas para estimular o gosto pelo aprendizado nos pequenos.

            Agora,  trago  comigo  nomes  como  Thaís,  Mateus, Manoela, Lorenzo, Miguel, Débora, Amanda, Maria Clara, Gabriel, Joana e João Gabriel. Tenho mais seis alunos. Um faltou, outro não colocou o nome no texto que pedi para ser entregue hoje e os demais deverão entregar a redação na próxima aula, depois de amanhã. Eles têm cerca de 15 anos e estão no 1º ano do Ensino Médio. Esta também é a primeira turma dessa etapa no Colégio John Kennedy de Porto Ferreira.

          Minha atenção está voltada para eles, em como preparar uma aula instigante e desafiadora, que tenha significado e se transforme em aprendizado a cada novo encontro. Não é mais o meu texto que importa e sim o deles. Educação ganhou a cor de 17 rostos com os quais me comprometi antes de conhecê-los. Durante a aula, olhava para eles como quem tem diante si a possibilidade de um futuro promissor porque a juventude inspira a esperança.

                 Portanto, também hoje, dei-me conta de que entre os novos desafios não está mais o cumprimento de um prazo ou do dead line. Dessa nova perspectiva, a Educação é um processo de construção contínuo e jamais acabado: para eles e para mim. O professor, penso eu, é para sempre um discípulo, pois a alegria e o prazer de aprender e de conhecer não se esgotam (ou, pelo menos, não deveriam esgotar-se) entre aqueles que se dedicam a ensinar.

                 Faz  pouco  mais  de um ano que sonho com este dia. Comprei muitos livros para me preparar, faço parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) do Laboratório de Psicologia Genética da Unicamp e fiz dois semestres do curso de especialização latu sensu em “Neuropedagogia e Psicanálise no Contexto Educacional” na Unicep, em São Carlos. O objetivo sempre foi o de estar preparada para o “grande dia” e qualificada para dar atendimento de excelência aos estudantes.

           Mas, como escreveu o Paulo Freire, nenhum professor nasce com dia e hora marcados. “A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática”. E nisso há muita semelhança com o Jornalismo. Fazemo-nos repórteres no cotidiano das redações e no convívio com nossos colegas mais experimentados.

                Nesta nova empreitada, não é diferente, mas o acaso torna a experiência ainda mais interessante. Minha parceira de trabalho, Alessandra Malinverni, foi minha professora de Redação no segundo e terceiro anos do Ensino Médio, respectivamente, em 1995 e 1996. E sempre gostei do trabalho dela. Nunca tive grandes dificuldades com a escrita, mas as aulas da Alê, sempre regadas à boa música – ela toca e canta muito bem – foram imprescindíveis para adequar a escrita aos padrões dos vestibulares e educar o pensamento com foco e objetivo nos temas propostos. E é emocionante dar esse primeiro passo com o apoio de uma educadora que eu pessoalmente admiro desde quando era sua aluna.

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