Sargento Tavares e Joaquim Cantagalli
Do site do Porco no Tacho
O mineiro Joaquim Cantagalli e a paulista Maria Rossi se conheceram no final dos anos 50 durante os jogos de futebol de final de semana e em terços realizados na Quaresma, comuns naquela época.
A família de Maria veio de Birigui com sonho de se estabelecer nas novas terras do Norte do Paraná. A família de Joaquim preferiu plantar café, em Londrina onde ficou por alguns anos. Depois disso, em 49, o pai do jovem de 19 anos veio a Maringá onde adquiriu 15 alqueires de terra (mais mato do que terra, aliás) e aos poucos foi iniciando a lavoura. O pai de Maria chegou um pouco antes, em 47, e iniciou o trabalho com uma destilaria produzindo uma das melhores cachaças da época.
Os dois pioneiros casaram-se em janeiro de 51 na antiga catedral de madeira e hoje moram no mesmo local em que se conheceram: o sítio Placa São Domingos, hoje um bairro de Maringá distante a 12 quilômetros do centro da cidade. Maria Rossi Cantagalli, 63, diz que a viagem do interior paulista até o local escolhido por seu pai para fixar moradia e tentar a sorte foi boa até chegarem na região do Maringá Velho. “De lá para cá, até chegar ao Distrito de São Domingos, também não tivemos muitos problemas, mas, do São Domingos até o sítio que meu pai havia comprado era uma picada estreita aberta na mata. Um pessoal vinha na frente cortando os cipós que desprendiam das árvores para que eles não se enroscassem na mobílias do caminhão”, relembra, Joaquim Cantagalli que era um “ sacrifício” vir até Maringá.
“Existia um ônibus que passava poucas vezes ao dia em frente do sítio. Quando chegava tinha mais ente em cima do que dentro. O melhor mesmo era ir à pé e a marcha durava uma três horas.
Ele lembra que na região do "fim da picada" foi construída a primeira zona de meretrício da cidade. “ Eram umas taperas feitas com tronco de palmito e cobertas com folhas de palmeira. Era horrível passar por lá. De vez em quando eu e meu irmão, que era casado na época, passávamos de charrete e aquelas mulheres, umas cinco, seis, corriam atrás e tentavam se pendurar no veículo. Teve muita morte naquele local. Os Homens passavam a semana inteira derrubando árvores e no final de semana recebiam o pagamento pra gastar no lugar. Depois de beberem aconteciam as brigas que sempre resultava em uma ou até mais mortes.
ONÇAS E “PORCO NO TACHO”
O casal afirma que naquela época não havia roubos e o fruto da colheita-batata, café, feijão e arroz-além das ferramentas de trabalho, eram deixados ao lado do carreador sem que qualquer pessoa os tocasse. “ Naquele tempo era muito melhor do que hoje. Esse tipo de violência, contra o patrimônio das pessoas, não existia”.
Como todos os colonizadores, Joaquim e Maria utilizavam os lampiões para iluminarem a casa. Ele diz que quando havia escassez de combustível, o óleo de mamona cumpria a tarefa com eficiência. O grande desafio para os habitantes era o transporte deficitário e o lamaçal que se formava após qualquer pancada de chuva. Maria Cantagalli lembra que o carro que trazia de volta após o casamento com o marido, ficou atolado na subida do Maringá Velho (onde hoje existe um semáforo). “Tive que erguer o vestido da noiva e andar no meio do barro até um caminhão. Carro pequeno ali não passava de jeito nenhum”.
Perguntando se viu alguma onça no meio do mato, Joaquim afirma que nunca teve contato com qualquer animal selvagem, mas conta uma história presenciada por seu irmão e que abalou os moradores da região do Sítio São Domingos. Havia o “bar do cachorro”, feito de tronco de palmito, na estrada que liga Maringá a Paranavaí – à época Estrada Colombo – onde atualmente se localiza a fazenda da Cocamar. Existia a suspeita de que uma onça estava habitando a região e todos foram aconselhados a se precaverem. Durante o dia, os cavalos ficavam inquietos quando passavam pelo local. Certa tarde, dois viajantes cansados que percorriam a região resolveram dormir à margem da estrada. No outro dia, pela manhã, apenas um deles se encontrava no lugar em que dormiram a seu companheiro havia desaparecido. Uma operação “pente fino” foi montada pelos moradores. Algumas horas depois um grupo encontrou as duas botas ensangüentadas do rapaz que havia desaparecido. Seu corpo, segundo Cantagalli jamais foi localizado. “Até construíram uma pequena capela no local do ocorrido e que pode ser vista ainda hoje”, contou.
Hoje, Joaquim Cantagalli vive com a esposa numa chácara menor por ter sido desmembrada através de venda de terras ao seu redor – tem quatro filhos, netos e bisnetos, dedica-se a aproveitar os “tempos modernos” cuidando do quintal e criando passarinhos, uma de suas paixões. As sextas, sábados e domingos os filhos e netos do Sr. Joaquim, preparam, temperam e fritam deliciosos porcos nos tachos, já tradicional no bairro e que é consumido por uma legião de comensais que lota o salão construído ao lado da famosa “Venda São Domingos”.
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