Quando criança, já sentia como são diferentes os caminhos das pessoas. Pobres e ricos, crentes e ateus, feios e bonitos, saudáveis e imperfeitos. Um mundo cheio de cores, alegres e tristes. E eu desejava muito entendê-lo. Olhava-me e ignorava o sentido de minha existência. Mas sentia-me bem, assim como era. Meus cabelos cacheados que me cobriam os ombros me enchiam de orgulho. Pela manhã, os escovava, tratando-os como a um tesouro. Minha alma feminina já se manifestava em pequenas coisas. Emocionava-me com facilidade e não raro derramava lágrimas por algo que via ou presenciava. Alma de mulher.
Nos longos recreios na escola eram constantes minhas visitas a gruta de Nossa Senhora e ali... Sentia-me feliz. Aquela mulher, de rara beleza me fascinava e me orientava. Tinha um amor imenso por aquela mulher. Jovem e corajosa que gerou, amamentou, ensinou os primeiros passos a Jesus. Sim, eu a amava muito e gostava de partilhar com ela o imenso privilégio de ser mulher. Um dia, pensava eu, ainda faria algo forte, algo de que pudesse me orgulhar. Algo para deixar sementes e brotar minha presença neste mundo. Alma de mulher.
Minha mãe era rainha naquela bonita casa. E eu... Eu a achava linda... Mãe de oito filhos,sabia se conduzir com força e determinação, dispensando a cada um a real necessidade que se fazia presente. Ocupava em meu coração infantil um lugar que ninguém mais haveria de conquistar. Segurava suas mãos, sabendo que me levariam por um justo caminho. Seguia seus passos, certos e firmes e admirava-a mais do que nunca, dividindo suas horas nos afazeres domésticos e em seus cuidados com o lar. A delicadeza feminina. Alma de mulher.
Mas, seria isto o que se espera de uma mulher? Fui crescendo, olhos atentos, mãos explorando, visitas contínuas a Nossa Senhora. Não... jamais poderia imaginar a luz que recebi de Minha Mãe. Procurava incessantemente meu lugar. Estudava, lia tudo que me passava pelas mãos. Mudei de rumo muitas e muitas vezes, mas sempre a alma feminina, ansiosa, misteriosa e terna, dirigia meus mais importantes momentos. Alma de mulher
Finalmente terminei meus estudos em profissão não tão feminina. Ao menos pensava assim, tendo como universo o mundo que se descortinava a minha frente. Mas a imagem daquela Nossa Senhora jamais me abandonou. Trazia-me uma força traduzida na minha vontade de marcar o meu caminho com flores, muitas flores. Flores com seu aroma, sua mensagem, sua cor, seu sentido, purificando as mãos daqueles que as tocam. Um mundo visto por meu coração. Alma de mulher.
Nesta fase de minha vida já começava a compreender a importância de ser mulher. Colocar nos corações toda vida emocional que vibra no sangue de cada um. Olhava-me e não identificava mais aquela menina franzina e temerosa dos velhos tempos. E os sonhos onde estariam eles? Escondido em algum canto de meu coração. Mas não estavam perdidos. Acalento-os até hoje e muitos... Estes os realizei. Alma de mulher.
Tornei-me mãe e meus filhos muito me ensinaram. Aprendi a esquecer, perdoar, não permanecer em queda, pois muito ainda haveria de lutar. Conheci a beleza de ter em meus ombros a tarefa de carregar seres que muito amo. Trabalho gerando flores, lágrimas que caem numa canção, sorrisos que brotam dos lábios de meus filhos. Tudo em perfeita harmonia. Impossível ser feliz sem vê-los igualmente felizes. Alma de mulher
Abri então meu coração, entendendo que ser feliz é muito mais. É compreender a verdadeira missão a que nos foi destinada. Trazer ao mundo o toque delicado das mãos femininas, no cuidado, no amor, no trabalho. É dizer não a violência que insiste em se alastrar, é pagar com sorriso a lágrima que insiste em cair, é gostar do amargo porque nele também podemos perceber o doce. Ser mulher é saber calar e falar com o coração. É poder se comunicar sem nem mesmo usar a palavra. É ter a tarefa de decidir com força e determinação, sentindo em nossas mãos o peso da decisão. Alma de mulher.
Finalmente em minha jornada encontrei a Deus. E pude amá-lo de forma intensa e maravilhosa. Pude senti-Lo nos momentos mais amargos e pude partilhar com Ele minhas alegrias. Pude enfim encontrar o amor infinito de Deus e pude amá-lo com alma de mulher.