Crédito da foto: Agência Reuters
Os
ambiciosos planos do Kremlin passam por uma reformulação do seu sistema de
defesa antiaérea, o desenvolvimento de uma nova linha de caças, o Sukhoi T-50
(equivalente ao americano F-35C), a compra de 400 mísseis balísticos
intercontinentais e de centenas de submarinos nucleares. Ainda este mês,
durante uma feira de tecnologia de ponta, a Technoprom, o ministro-adjunto da
Defesa, Dmitry Rogozin, utilizava um discurso que parecia quase tirado de um
filme de ficção científica. “O nosso soldado deve conseguir alcançar os alvos
sem ser atingido por fogo inimigo. É para isso que estamos a trabalhar agora”,
assegurou Rogozin.
A
Rússia dá cartas também no campo da exportação de armamento, com um volume de
negócios de cerca de nove mil milhões de euros no ano passado, com a
França e a China entre os principais compradores, de acordo com a revista
Foreign Policy. É nos Montes Urais que todos os anos, desde 1999, é celebrado o
poderio de o complexo militar-industrial russo. Na edição deste ano, que
decorreu no final de Setembro, o primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, assistiu
ao desfile dos novíssimos tanques com o nome sugestivo de Terminator.
Uma
batalha ainda não é ganha sem soldados e o Kremlin sabe disso. É por isso que a
demografia é uma das dores de cabeça de Putin, que já em 2006 dizia ser “o
problema mais urgente na Rússia”. A queda da natalidade e a alta taxa de
mortalidade (a esperança média de vida dos homens é de 64 anos) levaram a um
saldo populacional negativo nos últimos 20 anos. De uma população de 148,6
milhões em 1993, a Rússia passou para perto de 142 milhões. A taxa de
mortalidade masculina, de 14 em cada mil pessoas (nos EUA é de oito em
mil), coloca a Rússia acima da média dos “países menos desenvolvidos”, de
acordo com a Divisão Populacional da ONU.
A
solução, em termos militares, tem sido o abandono progressivo do recrutamento
tradicional, que consistia no serviço militar obrigatório de dois anos, uma
herança dos tempos do Exército Vermelho. Progressivamente, a duração do serviço
militar foi reduzida para um ano e depois aumentou-se o número de casos
excepcionais. O novo paradigma é o da crescente profissionalização dos
soldados. O exército russo contava, em 2012, com cerca de 170 mil soldados
contratados, mas a ideia é chegar aos 425 mil até 2020.
Ambicioso
como é, o programa militar russo não é, contudo, imune a críticas (ao contrário
dos soldados invencíveis de Rogozin). As apreciações negativas do ex-ministro
das Finanças, Alexei Kudrin, custaram-lhe o cargo, no final de 2011. O futuro
parece ter vindo a dar-lhe razão. Em Maio, o Kremlin anunciou o adiamento de
programa por dois ou três anos. O que parece certo é que não será abandonado,
nem que não seja por razões de consumo interno. Uma sondagem do Centro Levada
mostrava, no mês passado, que 46% dos russos eram favoráveis a um aumento da
despesa militar, mesmo que isso levasse a um recuo económico.
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