Escrito por Gustavo Aquino
A Sanepar assegura que não está contaminando o rio Boguaçu Mirim, muito menos a baía de Guaratuba. De acordo com a empresa, a água despejada pela estação de tratamento de esgoto apresenta índices de poluição bem abaixo dos exigidos pela legislação.
O Correio do Litoral.com e o conselheiro municipal de Saúde Glauco Souza Lobo visitaram a estação de tratamento na quinta-feira (2) para conferir o esforço da empresa em reduzir o mau cheiro que exala do local e comprovaram a capacidade de tratar o esgoto de uma população dez vezes maior que a de Guaratuba.
A Sanepar também convidou os vereadores do município a conhecerem as instalações para tentar demonstrar que a empresa atende a todas as exigências ambientais. A visita dos vereadores deverá ocorrer neste sábado (4).
Gonçalves afirmou que a empresa vem combatendo mau cheiro com adição de novos produtos químicos no tratamento. Outra mudança decorrente da reclamação dos moradores da vizinhança foi tampar os tanques de tratamento que antes ficavam a céu aberto em boa parte do tempo. Os técnicos que trabalham na estação explicaram que fatores climáticos também influenciam no cheiro.
Qualidade acima do exigido
O gerente regional da Sanepar, Romilson Gonçalves, explicou que a legislação nacional exige que o esgoto tratado seja lançado com no máximo 1.000 coliformes fecais por 100 ml de água. Segundo o técnico ambiental da ETE Guaratuba, Deogenes Sereniski, a água que é lançada pela Sanepar num canal de drenagem apresenta de zero a 200 coliformes fecais por 100/ml.
Sereniski e o operador de tratamento David Chaves Carneiro trabalham sozinhos na megaestrutura. Eles controlam por computador o funcionamento de todo o sistema, que conta com 13 estações elevatórias e uma vasta rede coletora. Num clique do mouse podem fechar uma comporta ou mudar a forma de operação de um equipamento.
A dupla também toma conta de um laboratório de análises químicas que, segundo eles, é o mais bem equipado da Sanepar no litoral, atendendo inclusive escritórios da empresa de outros municípios da região.
Na foto, Carneiro (esq) e Sereniski no laboratório.
IAP exige desinfecção em dobro
Romilson Gonçalves conta que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) cobra procedimentos mais rigorosos que o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) como a desinfecção completa da água que é lançada. Em razão disto, o cloro é aplicado duas vezes.
Primeiro ele jogado nos tanques de tratamento para obter uma descontaminação de até 80%. Esta água vai em seguida para a imensa lagoa de tratamento de 16.000 metros quadrados onde fica aproximadamente 25 dias parada. Antes de ser lançada no canal do DNOS recebe mais uma adição de cloro.
A reportagem pode comprovar que a água que sai da estação é ligeiramente turva e apresenta um leve cheiro de esgoto. Já a água que é lançada no canal tem um tom mais esverdeado e é mais escura. No entanto, praticamente não tem odor.
Segundo Sereniski, o tom esverdeado é devido à presença de vegetais na lagoa. O técnico explica que os micro-organismos e a sujeira presentes nesta água explicam a espuma que se forma na saída para o canal, mas que isto não significa que haja contaminação.
Na foto, Sereniski mostra a água que chega à estação de tratamento depois da remoção dos resíduos sólidos (esq.), a que sai da estação de tratamento (centro) e a que é sai da lagoa (dir.) que é mais esverdeada mas não possui nehum odor.
Longo caminho até o rio e a baía
Da estação da Sanepar até o rio Boguaçu Mirim o canal de drenagem percorre um caminho de 3.200 metros passando pela área de ocupação conhecida como Portelinha, onde a falta de regularização dos imóveis impossibilita a Sanepar de fazer a coleta de esgoto. O resultado é o lançamento de esgoto e sujeira diretamente no canal.
Antes de chegar ao Boguaçu, a água lançada pela Sanepar se junta a de outros canais de drenagem. No rio, toda a água percorre ainda aproximadamente 800 metros até chegar á baía.
Capacidade para dez vezes a população
Romilson Gonçalves, explica que ETE Guaratuba foi construída para atender a população fixa do município e ainda a demanda da temporada de verão. Segundo o IBGE, residem na área urbana de Guaratuba 28.793 pessoas. No auge da temporada, a cidade chega a abrigar mais de 300 mil pessoas.
O gerente informa que a empresa investiu aproximadamente R$ 80 milhões em Guaratuba e a rede de esgoto chega a 56% dos imóveis.
O Correio apurou com fontes do governo estadual que a Sanepar estuda investir mais R$ 28 milhões na ampliação da rede de esgoto de Guaratuba. Os bairros beneficiados seriam parte do Cohapar, Piçarras e Mirim. Cálculos extraoficiais dão conta que este montante será suficiente para levar rede de esgoto a mais de 80% da população urbana do município. O gerente regional não quis comentar a informação.
Além de tratar o esgoto, a ETE fornece lodo, o biossólido, como matéria orgância usada na agricultura e distribuída pela Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural).
Na foto, Gonçalves mostra o biossólido, ao fundo o advogado Guilherme Zavataro.
Durante as mais de duas horas que duraram a visita, a equipe da Sanepar prestou esclarecimentos detalhados sobre a coleta, tratamento e destinação do esgoto, sobre o tratamento da água e sobre os dois mananciais utilizados pela Sanepar, os rios do Melo e Saí Guaçu.
Segundo os técnicos, a água distribuída pela Sanepar em Guaratuba é uma das melhores do Paraná em virtude da tecnologia disponível, do fato das estações e das tubulações serem novas e modernas e, principalmente pela qualidade da água oferecida pelos mananciais.
O mais puro, o rio do Melo, abastece sozinho a cidade por aproximadamente dez meses. A fonte do Saí Guaçu cobre a demanda da temporada. Segundo os técnicos, a água do Saí Guaçu também está entre as melhores do Paraná. Extraoficialmente, os técnicos comentam que muitos turistas chegam a estranhar a água de Guaratuba de tão pura que é.